A coisa aconteceu mais ou menos assim: era aniversário do Marquinho da minha classe e lá fomos nós, um bando de meninos e meninas na sua festa. Comemos, bebemos, pulamos, gritamos, falamos, cantamos... até não poder mais.
Lá pelas tantas, todo mundo cansado de comer, beber, correr, gritar, pular e cantar, fomos sossegando e sentando num sofá marrom, num dos cantos da sala. Marquinho, eu, Rita, Felipe, Marisinha, Tiago e Kikão. Era hora do bate-papo mais próximo, do assunto mais íntimo. Conversamos durante uma boa meia hora. Os assuntos iam e vinham com incrível facilidade e velocidade. Falávamos de jogos, de televisão, de escola, dos irmãos, dos inimigos.
A certa altura da conversa, quando a sala estava quase vazia e só nós conversávamos ali no canto, o assunto que veio foi o medo. Não o medo da professora e da bronca da mãe, nem o medo de apanhar do vizinho maior ou medo de levar bomba na escola. O medo de que começamos a falar era o medo de almas do outro mundo, de cemitérios, de defuntos, de mortos-vivos... De todos nós, Marquinho era o mais quieto e o que menos falava.
- Pô, Marquinho, você está com tanto medo que nem abre a boca?!
Ele mal abriu a boca para explicar:
- É medo, mesmo.
Felipe entrou na conversa.
- Medo de quê, cara? Medo é coisa de mulher!
As meninas, discordando da afirmação, mas também com medo, não abriram a boca, enquanto ele continuava a provocação:
- Medo é coisa de maricas, Marquinho.
Marquinho tentou explicar-se:
- Eu tenho medo mesmo. E não tenho vergonha de dizer. Se você quiser achar que é só mulher que tem medo, problema seu!
- Chiii! Cada homem medroso... parece mulherzinha.
Eu também entrei na conversa.
- Quer dizer que você não tem medo, Felipe?
Ele olhou para mim, com uma cara que eu não entendi se era de gozação ou de medo disfarçado, e respondeu:
- Não tenho, não. Medo passa longe de mim.
O diz-que-diz rolou mais um pouco, com Felipe, provocador, dizendo não ter medo de nada e o resto de nós não acreditando na sua exibição. Foi o próprio aniversariante quem deu a dica para passarmos a limpo nossa discussão.
- Você pode provar para nós que não tem medo?
- Posso.
- Agora?
- Qualquer hora.
- Então vou te fazer uma proposta. Se você provar que não tem medo, eu vou na escola vestido de mulherzinha...
- E se eu não provar?
- Você vai na escola, durante a semana inteira, com uma placa de cartolina, na qual escreveremos “eu sou medroso”. Você topa?
Esfregando as mãos, aparentando satisfação imensa, Felipe respondeu imediatamente:
- Está topado. Topadíssimo! Pode fazer a proposta.
Marquinho pensou por alguns segundos, enquanto todos nós fizemos um silêncio esperançoso.
- Você deverá sair dessa sala, passar pela cozinha, abrir a porta e entrar no salão sem acender as luzes!
O salão ao qual Marquinho fazia referência era o salão que ficava no fundo do quintal da sua casa, onde tinha sido feita a sua festa de aniversário. Era um salão grande, mas separado da casa pelo quintal. Estava tudo escuro.
- Prepare-se, Marquinho. Quero ver você vestido de mulherzinha na escola...
- Não cante vitória antes, Felipe!
- A vitória é para já!
Felipe ia saindo quando Marquinho deu-lhe uma última recomendação:
- Só quero que você saiba o seguinte: quando nós mudamos para essa casa, toda a vizinhança dizia que o salão era mal assombrado, que, no escuro, duas sombras humanas ficam vagando lá dentro. Eu não acredito nisso de sombra; eu só escuto vozes gemendo à noite. Mas acho que você não se incomoda com essas coisas, né?!
Eu juro que vi o Felipe atrapalhar-se com um risinho meio nervoso e diminuir levemente seus passos. Seria medo?
Bem... a resposta todos nós ficamos sabendo, menos de um minuto depois que ele saiu pela cozinha e se dirigiu ao salão. E foi uma resposta curta, seca e grossa: um grito bem dado, uma mistura de “ui, iau, uáá”, um berro bem sonoro, bem forte, que saiu de dentro do seu peito, passou pela sua garganta e veio correndo de volta, até a sala onde estávamos. Felipe chegou esbaforindo-se, quase primeiro que seu próprio grito, derramando-se de susto.
- Eu vi... eu vi...
Marquinho, já saboreando a derrota do falso corajoso, perguntou-lhe:
- Viu o quê?
E Felipe, sem pose nenhuma, foi explicando:
- Eu vi as sombras...
Marquinho caiu na gargalhada.
- Que sombras: eu inventei isso! Não tem sombra nenhuma.
- Claro que tem! Eu vi!
- Você viu foi o seu medo, Felipe.
- Vamos lá, vocês vão ver... eu mostro...
A esta altura da farra, fomos todos em bando, para o salão de festas ver as tais sombras. E não é que era verdade? Felipe tinha visto sombras assustadoras lá dentro, mas eram sombras das bexigas penduradas no teto, dos enfeites nas paredes e das pás do grande ventilador. Claro, todas essas coisas misturadas pelo vento suave que invadia o salão mais o medo de Felipe fizeram-no ver as sombras mais tenebrosas da sua vida.
A festa terminou assim, com aquele sabor de refrigerantes, sombras assustadoras e esperança de muita brincadeira na semana inteira. Afinal, alguém frequentaria as aulas com a tabuleta “eu sou medroso”.
(Fonte: GARCIA, Edson Gabriel. Meninos e meninas – emoções, sentimentos e descobertas. São Paulo, Edições Loyola, 2002. p.35-38.)
1) Uma turma de amigos estava reunida. Preencha o quadro de acordo com o texto:
Que crianças faziam parte da turma? | |
Motivo do encontro | |
Local | |
O que eles fizeram juntos? | |
2) Em que momento da festa surgiu a conversa sobre o medo?
3) Para explicar melhor o assunto da conversa, o narrador dá alguns exemplos de medo que podemos sentir. Complete o quadro com os exemplos citados no texto.
Medos que não faziam parte da conversa | Medos que faziam parte da conversa |
| |
4)Essa conversa fez algumas crianças sentirem medo. Pensando no momento e no local em que eles estavam conversando, o que pode ter contribuído para que as crianças sentissem medo?
5) Responda:
a) Por que Marquinhos e Felipe discutiram?
b) Quem estava com a razão? Explique sua resposta.
c) Num primeiro momento, Felipe estava confiante que venceria a aposta. Copie uma informação do texto que comprove essa afirmativa.
b) Que truque Marquinho usou para vencer Felipe?
6) Em poucos minutos, Felipe voltou correndo e gritando do salão.
a) Complete o quadro, mostrando o que era real e o que era fantasia dentro do que Felipe percebeu.
O que era real? | O que era fantasia de Felipe? |
________________________________ ________________________________ ________________________________ | ________________________________ ________________________________ ________________________________ |
b) Em sua opinião, por que Felipe sentiu medo de coisas que não existiam?
7) Leia o trecho e copie-o passando para o plural:
Então vou te fazer uma proposta. Se você provar que não tem medo, eu vou na escola vestido de mulherzinha...
8) Escreva as frases abaixo passando para o plural:
a) O menino vê a borboleta voando.
b) O aluno lê um livro sobre a primavera.
c) A borboleta tem asa colorida.
d) Espero que a criança dê atenção ao animalzinho.
9) Sublinhe as locuções adverbiais. Depois classifique-as indicando a circunstância:
a) De longe dava pra ver a fumaça do incêndio. ( ___________________)
b) De vez em quando eu sinto dor de cabeça. ( ___________________)
c) Com certeza você vai gostar do livro. ( ______________________)
d) Depois que conversamos às claras, nos despedimos. ( ______________)
e) Às vezes eu tenho vontade de gritar. ( _____________________)
f) Vire à direita e encontrará a farmácia. ( ______________________)
10) Marque as alternativas em que todas as palavras estejam escritas corretas:
( ) geladeira – relógio – jeleia
( ) jiboia – germe - jegue
( ) jiló – berinjela - tigela
( ) girafa – jinásio – gilete
11) Forme frases com as palavras abaixo:
Sela _______
Cela ________
12) Marque V ou F de acordo com o uso das palavras destacadas e corrija as falsas:
( ) Minha mãe tem uma coleção de selos.
( ) Ele vê uma estrela brilhar no céu.
( ) Está tudo pronto. Espero que eles dê o melhor.
( ) Durante a viagem Ricardo e Renata vê a paisagem.
( ) Meus avós tem um sítio muito legal!
( ) Os meninos creem que vão ganhar o jogo.
13) Leia o trecho do texto e retire dele o que se pede:
A esta altura da farra, fomos todos em bando, para o salão de festas ver as tais sombras. E não é que era verdade? Felipe tinha visto sombras assustadoras lá dentro, mas eram sombras das bexigas penduradas no teto, dos enfeites nas paredes e das pás do grande ventilador. Claro, todas essas coisas misturadas pelo vento suave que invadia o salão mais o medo de Felipe fizeram-no ver as sombras mais tenebrosas da sua vida.
A festa terminou assim, com aquele sabor de refrigerantes, sombras assustadoras e esperança de muita brincadeira na semana inteira. Afinal, alguém frequentaria as aulas com a tabuleta “eu sou medroso”.
a) Um verbo:
1ª conjugação:________________________
2ª conjugação: ___________________________
3ª conjugação:______________________________
b) Um substantivo próprio: ______________________________
c) Um substantivo comum: ____________________________
d) Um verbo no infinitivo: ______________________________
e) Um advérbio:
modo: _________________________
lugar:__________________________-
inensidade:___________________________
14) Complete com tem ou têm:
a) A menina _________ muito entusiasmo em aprender.
b) Ela _________ um sapato igual ao seu.
c) Alguns políticos _________ esperanças de um futuro melhor.
d) Eles não _________ competência para julgar.
e) f) Então, ela _________que pedir perdão pelo que disse!
Atividade enviada por Adriana Carvalho para Professores Solidários.
Boa tarde onde vejo as respostas ?
ResponderExcluirEm que momento da festa surgiu a conversa o medo
ExcluirCadê as respostas? me ajudem por favor.
ResponderExcluirNão sei
ResponderExcluirNão tá aparecendo a resposta
ResponderExcluirCader as respostas queria As resposta😑
ResponderExcluirCadê as respostas
ResponderExcluirAí meu cu
Excluirlegal
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