Bem-vindos!!!!

Este blog foi criado para professores de 4º e 5º ano que encontram dificuldades para achar atividades. Algumas são criadas por mim e outras selecionadas dos grupos que participo. Se alguma atividade é de sua autoria me escreva para que dê os devidos créditos. Revise o conteúdo antes de utilizar. Não possuo os gabaritos. Tenho apenas as atividades.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O Roubo

            Na metade do segundo ano, houve um incidente que revelou o quanto eu continuava intruso.
            Tinhas uma pulseira de ouro com teu nome gravado, nunca a tiravas do braço. Aquela manhã, quando voltei do recreio, um pouco atrasado, a classe estava excitada. Todos, do professor aos alunos, olhavam debaixo das carteiras, vasculhavam o chão, mexiam na cesta de papéis. Tu choravas, com a cabeça sobre os braços cruzados na carteira. Do meu canto, eu via teus ombros cobertos pelos cabelos louros, sacudidos pelos soluços. Fui o único que nada fez, por não saber o que procuravam. E esse fato ajudou a criar problema. A busca não teve sucesso. Depois de quase meia hora, todos voltaram para seus lugares. O professor foi até a tua carteira.
            - Sinto muito, Helena, não achamos a pulseira. Você tem certeza que a tirou do braço, durante a prova de desenho?
            Balançaste a cabeça.
            - Não me lembro. Hoje cedo eu estava com ela. Depois não sei mais. Foi presente de mamãe. Por isso eu gostava tanto dela.
            - Se estiver na sala, a zeladora encontra. A menos que . . . – o professor fez uma pausa -  . .  . que alguém tenha visto na sua carteira e apanhado . . .
            Nesse momento, todos os ohares se voltaram para mim. Custei um pouco a perceber o que aquilo significava. Eu era o mais pobre e, portanto, o mais suspeito. Senti o sangue subindo no meu rosto. O professor acompanhou o olhar da classe e o pensamento da classe. Eu tinha chegado mais tarde no recreio. E fora o único a não procurar a pulseira. Ele olhou atentamente para mim. O silêncio me pesou como um insulto. Só tu não te voltaste. Continuaste a chorar com a cabeça sobre os braços. Teus soluços quebravam o silêncio. Então o professor falou:
-       Henrique, por que você não ajudou a procurar a pulseira de Helena?
A pergunta doeu fundo. Meu orgulho firmou a voz para responder:
-       Não sabia o que procuravam. Entrei por último na sala.
-       E por que chegou atrasado?
-       Fui aqui perto entregar uma encomenda de minha mãe.
-       Mesmo assim podia ter se informado sobre o que estava acontecendo e se oferecido para ajudar.
Raiva, humilhação e vergonha explodiram dentro de mim. Lágrimas que subiram aos olhos, lágrimas  que empurrei para dentro. Eu não permitiria que me vissem chorar. Respondi, erguendo a cabeça:
- Não faço parte desta classe, já fizeram questão de deixar isso bem claro. Se me oferecesse  para ajudar, teria sido recusado, pela mesma razão que agora suspeitam de mim. Se acham que fui capaz de roubar, pensariam, da mesma forma, que seria capaz de encontrar a pulseira e não devolvê-la.
            O professor não esperava pela resposta. Ficou embaraçado. Eu havia dito a minha verdade. E ela incomodava.
Jorge, o teu primo, foi quem teve a idéia.
-       Reviste os bolsos dele, professor.
-       Boa idéia! Henrique, venha aqui. Vamos revistá-lo para que todos vejam!
A brutalidade foi tão grande que não consegui me mover do lugar. O professor endureceu a voz.
-       Henrique, dei-lhe uma ordem! Obedeça!
Então levantaste o rosto molhado e falaste:
-       Não faça isso, professor. O Henrique seria incapaz de uma coisa dessas. Por favor, deixe-o em paz!
-       Se ele não é culpado, não tem o que temer – observou o professor.
- Eu sei que ele não pegou a minha pulseira. E se for para provar inocência, é melhor revistar todos começando pelo Jorge, que teve essa idéia boba.
            Por um momento o professor pareceu indeciso. Depois:
-       Está bem. Afinal , a pulseira é sua. Deixemos a revista para depois. E vamos à aula.
Não sei como consegui agüentar até o fim da manhã. Quando a classe terminou, os cochichos me perseguiram até fora do colégio. A história se espalhou pelos corredores. O ginásio inteiro me apontava.
Cheguei em casa arrasado. Fiz o possível para esconder o fato de minha mãe. Porém quando voltei do trabalho, no fim da tarde, encontrei-a de olhos vermelhos. Uma freguesa lhe contara o que acontecera. Ela me abraçou chorando.
-       Eu bem avisei que íamos ter muito sofrimento.
-       Tenho a consciência tranqüila,  mãe. E nada me fará desistir dos estudos.
Na manhã seguinte, fui tentado a não ir à aula. Precisei juntar toda a minha coragem. Uma fuga só aumentaria a suspeita geral. Cheguei em cima da hora, para evitar os comentários do pátio. Fui o último a entrar na classe. Helena se levantou, assim que me viu. Pediu licença ao professor e caminhou para mim.
- Henrique, eu estava esperando você chegar. Quero que todos saibam que o chofer do papai achou minha pulseira atrás do banco do carro. O fecho estava quebrado. Peço desculpas por ter, sem querer, causado uma humilhação para você.
            Todos baixaram a cabeça. Tu eras a rainha. Deixaste isso bem claro àquela manhã. Eu caminhei, de cabeça erguida, para o meu banco, no fundo.
Carlos Heitor Cony. Uma História de amor.



ESTUDO DO TEXTO



1)    Cite a principal razão pela qual o narrador tornou-se o suspeito do roubo.

2)     “Lágrimas me subiram aos olhos, lágrimas que empurrei para dentro. Eu não permitiria que me vissem chorar.” Que sentimento impediu o narrador de chorar?

3)    Identifique a fala de Helena na qual ela revela espírito de justiça.

4)    O que Helena fez que a tornou uma rainha aos olhos de Henrique?

5)    Seria mais fácil para Henrique não comparecer às aulas depois do incidente. Explique por que ele resolveu enfrentar as dificuldades.

6)    Faça um comentário  manifestando sua opinião em relação à atitude do professor.

7)    Os colegas de Henrique manifestaram preconceito contra ele. Por quê?  O que você pensa sobre isso? Faça um comentário a respeito.

Atividade enviada por Susana Felix para Professores Solidários.

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